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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Podem se retirar

Não há confissão na luta diária. Estar ou entrar em um jogo requer, consideravelmente, uma aptidão para iniciar a partida.
O difícil de uma turma agitada e, incontrolavelmente, desorganizada é que devemos, a todo momento, interromper. Temos de estar sempre solicitando e/ou exigindo o mínimo de tempo em concentração, para então, conseguir algo necessário e fundamental: dar a nossa aula.
As vezes algumas estratégias funcionam: ameaças nas avaliações, informar aos pais, levar à diretoria... Mas nada disso realmente tem resultados positivos a longo prazo. O ideal é impor respeito e, consequentemente, respeitá-los. O problema é conseguir tal proeza. Leva tempo.
Somos falsos cognatos. Não devemos demonstrar sensações. Envolver sentimento na relação professor e aluno é problemático, pois sensações são instáveis. Devemos ser profissionais! Devemos incentivar a pesquisa, torná-los independentes com relação ao ensino-aprendizado. Devemos ser neutros e imparciais [mesmo gerando pleonasmo]!
Mas o mais difícil em uma turma é quando ela é silenciosa, apática. Não sabemos como agir ou o que esperar, porque não nos é dado nem um indício de por onde proceder. Como direcionar se não há predisposição e muito menos objetivos?
Nesta a probabilidade não tem efeito. Na primeira, tudo é questão de conquista. Mas as vezes o “tudo” foge ao nosso controle por nossas sensações estarem presas e não devemos apresenta-las, jamais. Não em sala de aula. E somos humanos. Sou humano.
Barulho, muito barulho. O que existia era a possibilidade de compreendermos um gênero, cuja facilidade de produção não se revelava acessível naquele contexto e, para o qual, nenhum deles tinham habilidade em construí-lo; pelo menos não naquele momento. O bom é que sempre há alguém que deseja lhe ouvir. E o barulho continuava. A paciência de alguém não deve ser levada ao limite, pois podemos fazer coisas inimagináveis. Para um professor isso é um exercício diário. Temos a obrigação de fazer o que é apropriado. E o barulho continua.
De acordo com as orientações pedagógicas não devemos expulsar aluno nenhum da sala de aula, qualquer inadequação que não seja possível o professor administrar deve-se levar à direção. Mas como disse, também somos humanos, e cometemos erros.
Hoje eu me descontrolei, expulsei três alunas, que estavam insistentemente e irritantemente atrapalhando a minha aula, ou o que planejei que seria ela.
Hoje eu fugi do controle, deixei minhas sensações dominar-me. E sabe como estou me sentido? Ótimo! E alguém do meu lado me adjetiva, logo após essa resposta ter sido revelada ao som alto de “a banda mais bonita da cidade”:
- Bandido!
E a noite continua.

sábado, 21 de novembro de 2015

Entre corpos

Já era tarde. Mas a conversa insistia em não acabar. Planetas, almas, o espaço; a terra, a vida, o homem;
A mesa era de vidro, envolvida por um pano negro levemente bordado nas extremidades. As cadeiras pontiagudas, de aço, alimentavam as imagens promíscuas de um envolvimento, era possível sentir o gélido encosto delas. E nós, incomodados com suas espumas finíssimas. Olhos fixos um no outro.
A cada frase pronunciada era possível ver o movimento ondulante de sua língua sobre seus lábios. De forma suave seus órgãos bailavam em suas mucosas deliberadamente.
Levantou-se. Tocou suavemente sobre meu peito, perfazendo o caminho de meus pelos até o limite de minha cintura. Senti sua respiração balbuciada nos meus ouvidos, fechei os olhos. Suas mãos, rastejantes sobre minha pele, impulsionava os meus desejos mais sórdidos.
- Escreva-me, em passos lentos... – disse-me com a voz rouca.
 O toque leve arrepiava meu corpo por inteiro.
Sua mão, envolvendo meu pescoço, fazia com que me entregasse ao gosto sórdido de nossos pensamentos... fixei meus alhos aos seus.
Seu toque suave, arrepiando minha pele, dizia-me que devíamos continuar. Sua saliva pingava em mim.
Tocou onde a masculinidade de um homem se aflora. A calça entreaberta sucumbia a suor que descia vagarosamente desde da ponta do fio do cabelo, lambendo meu rosto, perfazendo meu tórax, aguçando minha barriga, atiçando minha cintura, deleitando minhas coxas até a ponta do pé.
Naquela noite, nos encontramos internamente, onde os encaixes são perfeitos e a mente delibera no intenso prazer o propósito do encontro. Estar-se.
E o gozo ainda continua fixado nas frestas daquela cadeira de aço, para em um suspiro, reviver-se.